Mais de mil pessoas participaram de um encontro de integração na manhã desta sexta-feira (22), em Foz do Iguaçu (PR). O evento reuniu representantes dos 20 Núcleos de Cooperação Socioambiental, criados em setembro deste ano para unir instituições diversas para que, juntas, identifiquem e executem soluções socioambientais nos 434 municípios do Paraná e do sul do Mato Grosso do Sul, área de atuação prioritária da Itaipu Binacional. A iniciativa tem a parceria do Itaipu Parquetec.
A ação é parte da estratégia de Governança Participativa para a Sustentabilidade, um dos eixos de atuação do Programa Itaipu Mais que Energia. A experiência de gestão do território poderá ser levada para a Conferência Mundial do Clima, COP 30, que acontece em novembro de 2025, em Belém (PA).
De setembro a outubro deste ano, 2.055 pessoas, representando 1.160 instituições, participaram dos 20 encontros dos núcleos, em 19 municípios do Paraná e um no sul do Mato Grosso do Sul. Os encontros reuniram governos, universidades, organizações da sociedade civil e empresas. Os participantes identificaram questões socioambientais prioritárias nos territórios, como gestão dos resíduos sólidos, qualificação profissional, moradia, geração de emprego, além do enfrentamento das mudanças climáticas.
O diretor-superintendente do Itaipu Parquetec, Irineu Colombo, deu as boas-vindas aos participantes lembrando a missão da Itaipu Binacional de cuidar do meio ambiente e da qualidade da água para manter a produção de energia elétrica. “Mas cuidar do meio ambiente significa cuidar das pessoas, porque onde tem pobreza tem agressão ao meio ambiente, onde tem pouco desenvolvimento tem emissão de carbono. Então os projetos de infraestrutura da Itaipu e do Governo Federal tem um olhar para as pessoas”, afirmou.
Para o diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni, o papel da Itaipu é apoiar as instituições dos núcleos a buscarem as próprias soluções dos problemas do território. “Estamos debatendo como otimizar as estratégias para que eles possam mudar, de fato, a realidade do território onde atuamos. E essa ação não é exclusiva do Itaipu, mas um pouco de cada uma das entidades, das organizações que atuam no dia a dia”, afirmou Carboni.
O evento marcou o primeiro encontro geral dos núcleos, com uma palestra do doutor em meteorologia Paulo Nobre, integrante do Programa Mundial do Clima e cientista sênior do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em sua fala, Paulo Nobre debateu os futuros possíveis da humanidade diante do imenso desafio das mudanças climáticas.
“Estamos em busca de uma ética planetária, mas o que é isso? É a minha rua, a minha cidade. Então, quando mudamos o nosso local, ajudamos a mudar o planeta em que vivemos. É uma mudança coletiva e que depende de cada um de nós”, afirmou o cientista.
Após a palestra, representantes dos núcleos foram convidados para um diálogo de encerramento. Na sequência, a assessora do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, Silvana Vitorassi, fez um resumo do caminho percorrido ao longo de 2024 e falou sobre as próximas ações e programação para 2025. Entre elas, o lançamento do novo edital da Itaipu Binacional em parceria com a Caixa Econômica Federal, de R$ 400 milhões, marcado para a tarde desta sexta-feira (22).
“O caminho é feito ao caminhar, mas é muito importante entendermos que quando caminhamos juntos, vamos chegar muito mais longe. Então, muito obrigada por estarem de mãos dadas com a gente para mudança desse território, para que ele seja mais justo, mais inclusivo, mais sustentável, e, principalmente, mais amoroso e mais feliz”, concluiu Silvana.
A professora Solange Aparecida de Souza, do município de Nossa Senhora das Graças, do Núcleo no Noroeste do Paraná, acredita que é necessário engajar os alunos sobre saberes como reciclagem e cuidados do meio ambiente. “Hoje eles estão muito envolvidos com internet, jogos, essa parte mais tecnológica, então os saberes acabam ficando para trás. Palestras como a do Paulo Nobre nos motiva a levar esses temas ambientais para sala de aula”, disse a professora da Escola Luísa Cuba de Oliveira.
O aumento projetado da temperatura do planeta, mencionado na palestra de Paulo Nobre, chamou a atenção de Leonardo Rocha Costa, funcionário da Assembleia Legislativa do Paraná. “Se a gente já enfrenta aumento da temperatura hoje, imagina daqui a 100 anos o quanto isso vai ser impactante, como os seres humanos vão ter que se adaptar. Tudo isso me tocou e faz que a gente se sensibilize cada vez mais com essa temática ambiental.”
Após a apresentação de Paulo Nobre, representantes dos Núcleos de Cooperação Socioambiental debateram sobre as esperanças e os desafios para a região. O diálogo foi coordenado pelo engenheiro agrônomo Luiz Ferraro, doutor em Desenvolvimento Sustentável, conselheiro do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental.
Para a engenheira agrônoma Leila Aubrift Klenk, mestre em Ciência do Solo e superintendente federal do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), no Paraná, devemos resgatar o conhecimento em relação à produção de alimentos. “Os núcleos vão ajudar nesse resgate, nos ajudar a entender que o território não se limita à linha que cerca nossos municípios. Temos muita semelhança como nossos vizinhos.”
“A Itaipu atravessou a Ponte Ayrton Senna”, destacou o engenheiro agrônomo Leandro Marciano Marra, mestre e doutor, professor da Universidade do Mato Grosso do Sul, sobre a ampliação do programa Itaipu Mais que Energia para parte de seu estado. “Ela saiu de 20 mil habitantes de Mundo Novo, que é um município lindeiro, para mais de um milhão de pessoas do sul do Mato Grosso do Sul. E nós agradecemos muito a isso.”
O psicólogo, teólogo e mestre em história, José Antonio Campos Jardim, presidente da Central Única das Favelas (Cufa), considerou que em toda a nossa história as favelas ficaram em segundo plano, mesmo reunindo uma imensa população responsável por movimentar a economia nacional. “Ou a gente começa a repartir a riqueza que produzimos ou vamos continuar a produzir mazelas”, resumiu.
Segundo a psicóloga Íria Stein Siena, integrante do Conselho Regional de Segurança Alimentar da Regional de Ivaiporã (PR), um dos desafios é capacitar os profissionais sobre a origem dos alimentos. “Lutamos para acabar com a fome, mas isso não basta, é necessário uma alimentação mais adequada. Hoje, o padrão de insegurança alimentar mudou, não estamos mais falando sobre desnutrição, mas combatendo problemas como a obesidade, porque alimentos ultraprocessados são mais acessíveis que a comida de verdade”, afirmou.
Os Núcleos de Cooperação Socioambiental são um espaço propício para o acesso a informações qualificadas que auxiliarão na tomada de decisões, troca de conhecimentos, diagnóstico de problemáticas comuns, construção de projetos colaborativos e fortalecimento de redes locais.
O diagnóstico territorial é a primeira atividade prática. A atividade é guiada por um especialista em governança participativa e meio ambiente, com o auxílio de coordenadores que conhecem bem os territórios. Esse também é um momento para que os participantes compreendam melhor o conceito de governança participativa, um processo colaborativo para a construção conjunta, transparente e democrática, de soluções mais eficazes para desafios coletivos.
Os núcleos recebem formações que começam com temáticas voltadas à sustentabilidade, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Além das capacitações oferecidas pela Itaipu e Itaipu Parquetec, também há a oferta de cursos pelas próprias entidades participantes. Durante um encontro preliminar sobre o tema, realizado em agosto na Itaipu, representantes de diversas universidades conveniadas com a binacional já se colocaram à disposição para ampliar a oferta de cursos e pesquisas.
Com a liderança da Itaipu e o Itaipu Parquetec, os núcleos promovem uma aproximação maior do Governo Federal dos territórios. Uma das prerrogativas é divulgar as oportunidades capazes de ajudar nos desafios diagnosticados, como editais públicos lançados pelos ministérios.