Publicidade

A política do ressentimento

Armações, falta de princípio e jogo sujo são manobras comuns de quem não aceita a derrota mas urnas

04/05/2025 às 10h54
Por: JNT NEWS
Compartilhe:
A política do ressentimento

Por João Zisman

Há um tipo de comportamento que se repete, quase como um padrão patológico, em todo início de gestão, o dos derrotados que torcem contra. Não por discordância legítima, mas por incapacidade de lidar com a perda. Em vez de reconhecer a soberania do voto popular e se recolocar no debate público com maturidade, preferem sabotar, distorcer, plantar dúvida, como se a rejeição nas urnas pudesse ser corrigida no grito.

É um fenômeno recorrente, ainda que vergonhoso. A democracia oferece aos vencidos um espaço nobre, o da crítica responsável, da vigilância construtiva, da proposição alternativa. Mas há quem decline dessa oportunidade e se contente com o papel menor de sabotador de ocasião. Tornam-se comentaristas raivosos, analistas amadores, militantes da catástrofe alheia, numa espécie de torcida organizada pela falência do adversário, como se isso não atingisse, antes de tudo, a população.

Trata-se de uma distorção do papel da oposição, substituída por um tipo de guerrilha de bastidor, onde a histeria vale mais que a razão e a desinformação mais que o argumento. Não é raro que esses críticos profissionais se apresentem como os únicos detentores da verdade, embora nunca tenham tido disposição real para o diálogo ou para o enfrentamento maduro das divergências.

Esse tipo de conduta revela mais sobre quem a pratica do que sobre quem governa. Expõe o despreparo para o contraditório, o vício pelo controle e, sobretudo, a ausência de compromisso com o interesse público. A política, nesses casos, deixa de ser instrumento de transformação para virar instrumento de revanche. E quem perde é sempre o cidadão comum.

Enquanto isso, as cidades seguem sendo tocadas por quem se dispôs a governar. Com todas as limitações, sim, com erros pontuais, inevitáveis, mas com um projeto em mãos e a responsabilidade de entregá-lo. A crítica é bem-vinda, desde que venha com o mínimo de honestidade. O que não se pode normalizar é o uso da frustração eleitoral como combustível para o ataque gratuito.

A democracia exige convivência. A pluralidade é um valor, não um incômodo. Governar para todos inclui também os que votaram contra. Mas é preciso reconhecer, há quem, mesmo derrotado, escolha a dignidade. E há quem, diante da derrota, revele seu pior lado. E não há gestão pública que se deixe intimidar por chilique de quem não aprendeu a perder.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários